«Podíamos actualizar a versão clássica da história da Branca de Neve e do espelho que devolve uma imagem muito boa da bruxa muito má e passar a usá-lo não para ver quem é mais bonito mas quem fica mais feio. Eu explico melhor.
A madrasta da Branca de Neve não suportava a ideia de existir, à face da Terra, alguém mais bonito do que ela e por isso todos os dias perguntava ao espelho quem era a mais bela.
Habituada a reinar, odiava a enteada pelo simples facto de ser obrigada a reconhecer que havia, de facto, alguém muito superior a ela e, por isso, mandou-a matar. Porque queria voltar a ouvir aquela vozinha que concordava cobardemente ser a sua, a única beleza genuína.
A ideia de fazer uma pergunta ao espelho foi a maneira brilhante como os irmãos Grimm (mais tarde imortalizados por Walt Disney) ilustraram a ansiedade que todos temos perante um espelho. Mesmo quando estamos bem e nos sentimos em forma precisamos de um espelho para nos assegurar que é mesmo verdade. Não basta a voz dos outros, o elogio alheio, é preciso ouvir a nossa própria voz (ou, numa versão mais infantil e cinematográfica) a do espelho, para ficarmos inteiramente confiantes.
O espelho é um excelente objecto, aliás. Prático, portátil e simples é uma ajuda preciosa quando queremos retocar o penteado, ajustar o nó da gravata, ver se a saia nos assenta, se estamos mais magros ou mais gordos e se ficamos bem na roupa. Em situações mais particulares ainda podemos usar o espelho para nos libertarmos daquilo que nos incomoda, para ampliar espaços ou, simplesmente, reflectir aquilo que nos dá prazer.
O que nunca ninguém se lembra de fazer com um espelho é ver-se no auge de uma discussão ou de um ataque de mau humor. E valia a pena!
Alguém escreveu um dia que se viu ao espelho por acaso enquanto discutia com a mulher. «De repente vi como era feio e ridículo. Não fui capaz de continuar. O motivo da discussão era tão estúpido que até tenho vergonha de me lembrar. O espelho é um grande mestre, devíamos andar sempre com um e, logo que o mau humor começasse a ameaçar, devíamos olhar para o espelho e ficarmos apavorados com a nossa fealdade».
É exactamente isto que eu queria dizer quando, no início, escrevi que devíamos usar mais vezes o espelho para ver quem fica mais feio. Talvez fosse uma maneira eficaz de evitar discussões inúteis.»
Laurinda Alves
Pois... Acho que todos nós, mesmo todos, precisamos de começar a trazer sempre um espelho connosco.
Acho que pode ser, realmente, uma boa ideia. Fiquem bem ;)
3 comentários:
Ora aí está uma coisa acertada!... :P
Estranho, né? e eu nem costumo concordar contigo!... ;)))
Ui ui... Muito estranho mesmo! Se há coisas raras, essa uma delas: a nossa concordância... ;)
bolas... és mesmo "má"!... (ainda faltava esta, certo?)... :)))
também não é assim tãããooo raro, nheda-se!!!... ;)
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